segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

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                                                         Dá-me ar - Toranja

domingo, 30 de janeiro de 2011

Whatever

Curvas e contracurvas, 
Avanços e retrocessos. 
Circundo as rectas 
E plano nos circulos. 
Uso e abuso, 
Crio e recrio, 
Invento e reinvento, 
Em espirais de certezas, 
Duvidando da dúvida, 
Valorizando o máximo 
Desvalorizando o mínimo. 
Ouço , 
escuto com atenção 
O infimo pormenor, 
E o que não olho, 
O que não vejo, 
O que sei e o que não sei. 
São acentos , virgulas, 
E pontos. 
Finais.
não de interrogação. 
Exclamação ? 
Por vezes. 
Paragrafo, 
travessão, passo a palavra. 
Mas não passo os sentires. 
Não, 
São meus. 
Egoista? 
Se calhar... 
Não os passo, 
Não os revelo, 
Também podia não os sentir. 
Seria mais fácil. 
Mas tu sabes... 
Que gosto de desafios, 
Do jogo, 
Da estratégia, 
Da batota 
quando a fazem comigo. 
Do resultado. 
Tempo de jogo? 
Indeterminado. 
Cartão vermelho. 
No próximo 
estás out. 
Desenho sem lápis 
Freehand , 
vectorial? 
Whatever. 
Olha sabes ? 
Gosto deste gajo.





sábado, 22 de janeiro de 2011

Hoje...mais um hoje!







Procurei-a,sem no entanto a encontrar…
Escapou-se-me à uns tempos, 

Eu até julgo que nunca a tive. 

Se tive foi por breves momentos, 

Por fugazes instantes, 

Em que o coração confundia a razão. 
Em que a paixão distorcia a realidade, 
Em que o Dali era o Deus 
E o abstracto a obra. 
Onde está ela? 
Concisa, 

objectiva 
e linear? 

Sem subterfúgios, 

Sem paletes de cores 
em linhas traçadas. 

Cruzadas 

Paralelas, 
perpendiculares,

Sem elipses, 
diagonais 
e círculos,

Circulos de mentiras ,
Círculos de omissões, 

Que nos fazem andar, 
viver,
e voltar ao ponto de partida. 

Onde está? 

Já desisti de a procurar, 

Mesmo sem saber se um dia a encontrei. 

Perdi-a ou nunca a tive? 

Não é dúvida que me assole. 
Onde está ela? 
A verdade? 
A tua…não a minha! 
A tua …de retalhos feita, 
De teias criada. 
Patchwork de enganos. 
A minha …

essa está onde sempre esteve. 

Em mim habita, 
em mim respira. 

Respiro verdade 
e transpiro transparencia. 

E a tua? 

Se até hoje não a encontrei … 

Talvez não exista de todo. 

Fantasia tentar encontra-la. 

Utopia tentar procura-la. 
A tua verdade ao existir

Se existir...
está onde tu queres que ela esteja. 

Em masmorras fechada, 

Aprisionada… 

Escondida, 
camuflada. 

Cinzenta, 
escura 
e sombria. 

E talvez um dia
quando a quiseres libertar , 
Se a quiseres libertar.

A luz a cegue 
e ela se retire 
para onde sempre esteve. 

A escuridão!. 

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

As coisas pequenas



Há dias em que as coisas pequenas se te atravessam no caminho e, por serem pequenas, tu achas que, mais cedo ou mais tarde, elas vão acabar por desaparecer. Mas as coisas pequenas são as únicas que nunca desaparecem pela particular razão de serem quase invisíveis.
Não percebes, pois não? Eu explico: tens uma chave, e tens uma porta, e a compor a porta tens uma casa que tem um recheio... sem creme, mas muito doce.
Tens uma chave e uma porta, e à volta uma casa, e queres entrar mas a chave, que é pequena, está torta e tu não dás conta, e colocas na ranhura, e rodas a chave mas metade dela parte-se lá dentro do recheio, e agora metade da chave está lá dentro, a impedir que tu entres.
Ainda não percebeste, pois não? Eu explico: tens todo o carinho acumulado dentro do teu corpo e já escolheste exactamente a pessoa a quem o queres dar… e essa pessoa existe mas depois, lá está, as pequenas coisas, a pessoa existe mas está dentro de casa e tu continuas fora, e agora vais ter de substituir o canhão… mas é feriado e não há quem te faça o serviço, e perdes a paciência, e arrombas a porta mas ela, que estava junto à maçaneta, a espreitar a ver se te via fica debaixo, e quanto mais procuras mais pisas, e quando dás por ela já estragaste tudo, e ela parte com a rapidez de um estalo que te aquece a cara que logo de seguida é refrescada pelo relento de estar dentro de casa com a porta pelo chão, e queres-te vingar, e vais buscar o martelo, e espatifas o canhão e a chave de fora, e a chave de dentro, e a porta, e partes tudo, e arremessas o recheio pelas janelas deixando que os gulosos te levem o doce. E recriminas-te muito mas a culpa não é tua, foi um pequeno duende que te entortou a chave… que pediu que ela espreitasse. Um duende pagão que inventou um feriado religioso para tramar um agnóstico e tu, que não acreditas em nada a não ser na tua capacidade de atingir objectivos, estás constantemente fodido porque pensas que as grandes coisas que fazes têm algum tipo de correlação directa com o que vai acontecer… mas acredita que as pequeninas coisas são tudo, são elas que fazem girar o mundo.
E a entrevista de emprego vai sempre ficar para outro por causa da caneta que estourou no bolso da camisa branca, ou dos fiapos de caldo verde que se penduram nos teus dentes, ou do corante do gelado que te deu à língua um tom esverdeado quando dizias palavras sábias. E vais sempre ficar preso no elevador porque faltou a luz… porque não vais chegar a tempo… porque era importante… e não podes fazer nada. E vais sempre perder o autocarro, apesar de muito grande e de dois andares, porque o duende apoia os grevistas… e porque o mecânico amigo te mudou o óleo do carro para um óleo da fritura das batatas que ficaram negras daquele jantar que correu mal.
E são sempre as pequenas coisas, tão pequenas que são ainda mais invisíveis que as coisas que tu não vês. Porque a fé tu não vês mas, se te esforçares, é possível. O amor também não vês mas, se te esforçares, é possível. O ódio… bem… o ódio não serve de exemplo, vê-se demasiado bem, tão bem como as letras garrafais de um escândalo de prostituição que está na primeira página… porque o senhor ministro deixou a carteira em casa e não tinha nada para pôr na cómoda da menina
e a menina, dona da cómoda, ficou tão incomodada que foi à porta dos jornais, a que estava entreaberta porque a senhora da limpeza a deixou assim para arejar.
E são sempre as pequenas coisas, aquelas que tu não vês, as que tu nem sequer conheces.
E o cansaço pode-te fazer cair devagar. E a tristeza pode-te fazer cair devagar. Mas os cordões desapertados fazem-te cair depressa.
E é humanamente impossível prever porque o doente do duende fá-lo com magia e a magia não se vê, a não ser na televisão ou pagando bilhete e, como ninguém aprende nada com o que vê na televisão e só queremos bilhetes se forem oferecidos, nunca vemos a magia.
E são sempre as coisas pequenas. E às vezes há partenaires gordas que já andam nisto há muitos anos que nos avisam antes de cair, mas nós… pronto, achamos que só acontece aos outros como nos lugares comuns… por isso o melhor é não dar grande atenção a seja o que for. O que tem que acontecer já aconteceu e o que nós queremos que aconteça vai acontecer, mas noutra altura, noutro sítio e, provavelmente, a outra pessoa.


in luto lento, de João Negreiros